Mudanças e recomeços são coisas que experimentamos uma vez ou outra na vida. E, se você parar para pensar, mesmo as mudanças negativas trazem algo de positivo nelas se encaramos cada recomeço como uma chance de melhoria.
Esta semana estava eu organizando mais uma (de muitas) grande mudança na minha vida. No próximo dia 8 junto meus trapinhos e decolo rumo a Toronto, onde vou estudar e pretendo me estabilizar. Enfim, é um momento de muita empolgação para mim.
Mas além dessa sensação de estar realizando um sonho, preciso confessar que uma certa preguiça me assalta. Talvez porque nada disso seja muito novo para mim.
Comecei a “mudança” em um dos pontos críticos: a separação dos meus livros. Precisava decidir quais levaria, quais guardaria com minha mãe e quais venderia ao sebo. Entre tantas pequenas mas importantes decisões ficava pensando “ah, já fiz isso antes, não quero mais fazer de novo”.
Quando eu tinha 22 anos e nem um mês de formada na faculdade, deixei a casa dos meus pais para ir morar em Buenos Aires. Levei duas malas de roupas e alguns livros queridos. Fui comprando outros… e voltei com caixas e caixas de preciosos livros.
Um ano depois de voltar para a casa dos meus pais no Espírito Santo, me mudei para o Rio e levei comigo muito mais caixas de livros. Comprei muitos outros desde então.
Cinco anos depois, deixei o Rio e vim morar em Niterói com meu noivo. E lá fui eu encaixotar pilhas e pilhas de livros…
Se você já se cansou só de ler minha história, imagine como me sinto. Percebi que não aguento mais essa vida de recomeços, que talvez esteja na hora de um recomeço definitivo, daqueles em que a gente deixa tudo no seu devido lugar sem pretenção de alterar nada no futuro.
Para se ter uma ideia, é a primeira vez na minha vida que vendo algum livro ao sebo. Pois é, sou acumuladora sem cura e os livros são o símbolo máximo do meu mais forte apego a coisas materiais. E mesmo assim, eu desisti, criei coragem e disse em voz alta “basta de carregar livros para lá e para cá, vou vender ao sebo”.
Uns vão dizer que é, por fim, maturidade, mas eu diria que é apenas desespero mesmo. Por que será que sou tão acumuladora se o adoro o sentimento de lberdade? Como posso gostar tanto de livros de papel se vivo de um lado para o outro? São esses paradoxo em nós mesmos que nunca entendemos.
A cada mudança a uma casa vazia, cada recomeço do zero eu penso em como vai demorar para encontrar meu conforto novamente. Então a vida passa e, quando percebo, o excesso de conforto já se transformou em excesso de coisas. E aí chega a hora de outro restart.
O que me conforta é saber que nenhum recomeço é igual ao outro e que sempre há novos caminhos a serem abertos. Fico feliz em saber que meu amanhã será diferente do meu ontem porque, por mais satisfeitos que estejamos, há sempre mais livros no mundo para serem lidos, assim como há sempre infinitas oportunidades a serem aproveitadas.